por Leila Ferreira
Imagine dormir em plena aula de natação, entre uma braçada e outra, e acordar com os gritos aflitíssimos do seu instrutor. Parece impossível? Então pergunte a Cris, que passou por esse vexame pelo menos meia dúzia de vezes neste último ano. Motivo? Cansaço, ou melhor, exaustão. Com dois filhos pequenos, um emprego que consome de 10 a 12 horas por dia e mais uma dezena de atividades paralelas, ela diz que estáno limite, mas não abre mão de nadar diariamente. "É a única coisa que eu sinto que estou fazendo por mim, o único momento do dia que é meu de verdade, por isso não desisto." O problema é que o horário que sobra para a natação é 6 da manhã. "Eu me levanto às 5h30 e vou, mas o sono e o cansaço são tão grandes que às vezes durmo dentro da piscina. Quando meu instrutor vê que fiquei quieta, ele grita e eu acordo -assustadíssima, claro, e morrendo de vergonha."
Nadar dormindo é só um exemplo do que tem sido o cotidiano das mulheres exaustas de hoje -e exaustas estamos quase todas nós. Com uma agenda que inclui trabalho, faculdade, filhos, supermercado, sacolão e curso de inglês ou espanhol, ainda temos que achar tempo para malhar, fazer limpeza de pele, pintar os cabelos, depilar, fazer as unhas, comprar presentes para todos os aniversariantes da família, devolver os filmes na locadora, pegar as roupas na lavanderia, levar o carro para a oficina, chamar o bombeiro para consertar a pia, ler o jornal e começar uma pós-graduação. Não é de se estranhar que tenhamos comportamentos cada vez mais bizarros.
Que o diga Beatriz, produtora de TV e mãe solteira. Quando chega em casa, às 9 da noite, encontra a filha Luana a mil por hora, querendo brincar de casinha. Beatriz achou uma saída criativa. "Digo a ela que sim, que topo brincar, mas com uma condição: eu faço papel de mesa. Aí me deito de bruços no chão da sala, fico imóvel -mesa não mexe- e a Luana vai pondo os pratinhos em cima de mim. Depois de meia hora brincando de mesa, eu recupero as energias e vou pra cozinha preparar nosso lanche."
No chão da sala ou na piscina, as mulheres, com ou sem filhos, têm recorrido a todo tipo de ginástica na tentativa de fazer caber em 24 horas uma lista de tarefas que exigiria um dia de pelo menos 48. E, perfeccionistas, queremos que tudo saia impecável. Será que é possível? "A gente pode até conseguir, mas o custo é alto", garante Cecília, professora de inglês que morre de vontade de arrumar um namorado, mas não tem forças para sair de casa e paquerar por nada deste mundo. "Ir pra barzinho depois de ralar o dia todo e ainda ter que me fazer de interessante pra que os homens se interessem por mim? Prefiro ficar sozinha. Pra falar a verdade, acho que nem beijar eu sei mais. Estou acumulada feito a Mega-Sena."
Acumulada, Maria Regina não está, mas diz que hoje acha a cadeira do dentista o lugar mais relaxante do mundo. "É o único lugar onde eu posso ficar sem conversar, sem me mexer e sem atender o telefone", explica. Produtora de telejornais como Beatriz, ela ainda enfrenta o desafio de dar aulas todas as noites em uma faculdade de Comunicação. "Passo os dias ouvindo e falando. Às vezes fico sonhando com aqueles minutos de silêncio que eles fazem antes do jogo no Maracanã. Um minuto daqueles umas três vezes por dia resolveria meu problema", diz.
Um dia desses, ao levar o carro para uma geral no posto de gasolina, Lílian perguntou ao atendente que já conhece de longa data: "Posso deixar o carro pra lavar e passar?". O frentista passou a mão na cabeça, pensou e respondeu: "Passar, a gente ainda não passa, dona Lílian. Mas pode deixar que a gente lava no capricho". A empresária me contou essa história na farmácia, onde tinha acabado de comprar um remédio para a memória, "pra ver se a cabeça melhora". Quase pedi o nome do produto. É que na véspera eu tinha tentado apagar a luz da cozinha soprando com toda força o interruptor e ainda fiquei nervosa quando ele não obedeceu. "Você tem que parar, diminuir esse ritmo!", me advertiu uma amiga. Talvez esteja na hora de aprender a brincar de mesa como Beatriz, mesmo não tendo filhos -ou de procurar o dentista da Maria Regina.
Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro "Mulheres - Por que Será que Elas...", da Editora Globo
Esse texto eu li hoje na sala de espera da terapia e achei P-E-R-F-E-I-T-O pra descrever meu atual estado. Está na Marie Claire de Outubro, sim, eu leio Marie Claire!
5 comentários:
Olá,
Desculpa o sumiço, não sou mulher com filhos, mas estou nesse ritmo louco a (ou há, nunca lembro) duas semanas. Pra você ter uma idéia, já acendi o fogão, guardei o palito riscado e joguei a caixa de fósforos fora. Duas vezes. Sem contar ter que pedir pra todo mundo repetir qualquer coisa complexa que me falem, por que estou devagaaaaaaaaar. Preciso de FÉRIAS!
Beijão!
olha...
DEMAAAAIIISSS o texto!
Muit bom, e muuito realista!
heheheh
Bjoo
Adorei a ideia do dentista e a da mesa, hoje vou brincar de mesa com a minha filha canina!
eu tb leio marie claire em consultórios mas não conto p/ ninguém!
eu também adoro a Marie Claire. Meu sonho é aparecer na "Eu, leitora"
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